25 de set. de 2011

Noivas e seus rituais encantados




"Ontem um amigo fotógrafo me pediu uma força para fotografar um casamento aqui na cidade mesmo. Mais precisamente ele queria que eu cobrisse a produção da noiva no salão de beleza. Making-off da moça. Animado como um garoto que vai testar uma coisa nova, lá fui eu. Esse não seria meu primeiro trabalho como fotógrafo. Tá certo que tenho muito o que aprimorar mais sinto a essência de fotógrafo correndo nas veias desde que toquei uma câmera.
Lá pelas 17:00hs comecei a me arrumar. Meu amigo deixara o equipamento aqui em casa antes, cercado de muitas recomendações e toques pra eu não deixar escapar da nada. Pelas 17:40hs saí de casa. O salão era no centro da cidade. Rapidinho cheguei ao local. 18:00hs isso. Situado numa galeria recém inaugurada, era um verdadeiro centro voltado para a beleza. Incrível aquilo tudo.
Logo me apresentei ao cabeleireiro - sem julgamentos extras mas era gay pela pinta. Nada contra. Penso que pra conseguir se organizar diante de uma equipe gigante e um monte de mulheres querendo ficar bonitas, só um ser com uma sensibilidade aflorada, que transcendo os limites masculinos mesmo pra dar conta. Mas foi um de seus assistentes que me apresentou a noiva. Não sabia quem era não, tinha visto pessoalmente pois fui incorporado ao time aos 45 minutos do segundo tempo.
Quase que naquelas cenas de filme de 'O Poderoso Chefão', a moça estava de costas pra mim numa cadeira de salão. A única peculiaridade eram os 'bobs' que ela sustentava na cabeça para embelezar os cabelos. E pra minha surpresa, quando ela se vira. Que noiva. Linda, viu. Aparentava uns 23 anos.Olhos verdes parecendo dois fragmentos de esmeraldas perdidas, cabelos loiros em em meio a toca, pele de pêssego e um sorriso único de quem estava feliz por esse dia tão esperado chegar. Me apresentei, informei que estaria com ela naqueles instantes antes da cerimônia. Iria aprontar meus equipamentos e estaria pronto. Fato era que meu equipamento já estava mais que pronto - pois fotógrafo de verdade sempre tem que estar pronto né - mas dei essa pra ela se sentir mais a vontade na sua sala especial de noiva. Simpática por sinal, me cumprimentou as mãos e assim segui para a sala central do local.
O local era uma coisa única. Acho que nunca tive a oportunidade de adentrar num lugar daqueles. Um motivo possível é o fato de ser homem e não necessitar de muitos cuidados. Nada que um barbeiro de esquina que corte cabelo e faça barba mais ou menos e deixe tudo certo. Fiquei encantado como em um único recinto várias mulheres entravam e saiam lindas. A maioria louca, apressada, falando pra caramba, ansiosas com seus respectivos casamentos, onde provavelmente emprestariam uma parte de sua atenção naquela noite.
Era um estica e puxa de cabelos pra cá, unhas e muitas risadas pra lá. Falação geral, animação também em meio ao nervosismo. Muito pó facial, retoques de sobrancelhas, sombras nos olhos divididas em camadas escurecedoras e iluminadoras. Cílios postiços e até cabelos também. Fiquei impressionado com aquilo. Isso tudo pude observar em uma noiva - que não era a que fotografaria - que estava a se aprontar.





 Enfim a donzela que eu acompanharia a se aprontar chegara. Entre um clique e outro pude notar a preferência do cabeleireiro por ela. Acredito que já eram amigos, quase íntimos. Eram dicas, risos e pinceladas pra tudo quanto era lado. A maquiagem facial acabou. Agora restava vestir o tão aguardado vestido de noiva e alguns últimos retoques.
Passaram cerca de 15 minutos e lá vinha ela no seu traje mais especial até aquele dia. Ela estava reluzentemente linda. Dentro de um vestido estilo sereia - onde, me desculpem algumas mulheres, só quem estava com tudo em cima poderia usar - branco tradicional, 'tomara-que-caia', bordado no colo, recoberto de brilhantes do fim do seio até a calda que se abria na altura dos joelhos pra baixo. Lindíssima. Fiquei deslumbrado por tal honra de ver aquela cena quase que em primeira mão, antes de todos o convidados. Parecia cena de filme. Quando ela saiu da salinha onde vestiu o traje, passou a mão pelo corpo olhando-o de baixo pra cima e nos presenteando com um sorriso de um ponta a outra da boca.
Pra finalizar aquilo tudo, o maquiador e fiel escudeiro passou uma maquiagem nas costas e braços dela. Um toque de 'glitter' no colo. O véu foi encaixado por trás do penteado - cachos na lateral esquerda, coberto de flores brancas medianas e um topete chique na frente emoldurando toda a face. E o toque final de tudo... o perfume. 'Channel Chance'.
A última foto... com toda a equipe do salão de beleza... só não pode passar em branco um momento único que presenciei além daquelas poucas horas que fiquei lá. A noiva toda arrumada, pediu um minuto de silêncio. Não entendi bem o que aquilo significara, mas respeitei. Era quase que um balanço de toda a sua vida... de olhos fechados, agradecendo por aquele momento à Deus, aos amigos, sentindo a sensação de menina que virou mulher realmente. Assimilando que aquilo tudo era real. Confesso que meus olhos brilharam com alguma lágrima fujona que queria aparecer. Mas segurei. Emocionante e especial foi essa tarde pra mim.



Acredito que se todos nós, homens, víssemos como as mulheres se preparam para nós, se ajeitam, sofrem com a depilação e vivem com a pressão de sempre estarem belas para seus companheiros...aprenderíamos como tratá-las melhor do que fazemos atualmente. Mulheres... ah mulheres! Retomando...
Ainda fui pra igreja no carro dela, ajudei meu amigo em mais alguns cliques na matriz. Não quis prosseguir para a festa, já estava satisfeito com a sensação de dever cumprido. Todos os carros seguiam na direção do cerimonial onde o casório teria sua extensão de alegria e eu, seguindo o sentido contrário andando solitário pela rua a caminho de casa. Com a gravata frouxa e os punhos da camisa branca social abertos. Mas que me fazeram sentir vivo, de ter feio o melhor de mim e ter me tornado parte dos melhores momentos da vida das pessoas. Não tem preço."

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