9 de jul. de 2011

O Diário de Rodrigo



Capítulo VII - Escolhas

"A vida as vezes tem disso: quando você menos espera ela gira e muda tudo outra vez."




Uma semana se passara desde que a Jú chegou. Ela e o Hugui estavam num nível alto de interação mesmo com tão pouco tempo de conhecimento. Os dias lá em casa parecem que se resumiam aos dois juntos. O engraçado disso tudo é que involuntariamente passei a ser intermediário dos indivíduos. Sério, quando tinha o pouco tempo pra ficar de boa, sempre tinha um querendo uma porção de conselhos, perguntas e planos. Estava na cara que estavam se curtindo. É bom sair de cena as vezes. Não mata ninguém. Fora isso percebi pela primeira vez como o ser humano fica bobo quando está gostando de alguém. Ria muito nesse período.
Trabalhando muito no período da manhã, quase não podia ver um dos espetáculos prediletos meus. O surgimento da manhã, compondo mais um dia aparentemente comum. Nesses momentos, a nostalgia parece ser minha única companheira. Amigos que não vejo mais e que mais uma vez parecem ocupados demais com suas vidas, nem sinal de vida dão mais. Os muitos "amigos" ou melhor dizendo, conhecidos se resumem apenas a um "oi" por entre as ruas onde nos vemos rapidamente. Daí sigo em frente em meu caminho pela vida. Com um tocador de música sempre a postos e um fone guerreiro que insiste em habitar minhas orelhas, sinto que até o modo "aleatório" de como o pequeno aparelho escolhe as músicas para tocar, contribui para que tal nostalgia se confirme.
Fui em direção à academia - é, resolvi voltar aos tempos de marombeiro - e distraído como sempre, tropecei feio num bloco mais alto da calçada. Cara, doeu viu... fui direto com a cara no chão, tenho as marcas até hoje ainda de um arranhão que ficou no punho. Fora a dor, o que eu faria com a vergonha que ardia junto com o dolorido no corpo. Froid isso. Até que meio que institivamente ouço alguém perguntando se tinha machucado muito, se estaria bem - claro que a resposta mais sincera não seria um "to bem". Bom, mas ainda havia uma esperança...
Um senhor gentil estendeu a mão e me deu uma ajuda pra me reerguer. Ele aparentava ter uns 28 anos aproximadamente, era mediano quanto à altura, tinha cabeloscurtos e sorriso bonito até. Parecia ser um cara legal. Agradeci e continuei a andar, meio manco ainda pela queda mas andando. Chegando ao destino malhei como um doido, apesar dos joelhos apitarem ainda de dormência e vermelhidão.
O questão naquele momento era mais uma vez eu. Fazendo abdominais - um lugar que para muitos que malham nem sempre é um dos melhores, mas para mim era um momento que durante uma série e outro pensava muito em mim. Não é muito convencional alguém utilizar essa hora pra fazer isso, mas...
No primeiro intervalo da primeira para a segunda série de exercícios, reparei que tinha uma tiazinha me olhando, parecia gostar do que via e não seria eu que atrapalharia sua visão - tudo bem que não sou lá um galã de malhação, mas sou boa pinta, me cuido.
Já no segundo momento, quem me olhava era um bombado. Por incrível que pareça era um sim. Mas não olhando com ares de admiração ou de quem estava gostando de me ver ali, mas sim com olhos de curiosidade. De quem estava contando junto comigo o número de repetições que fazia para comparar com as que ele ainda faria. "Sei lá, vai que esse baixinho faz mais repetições que eu..."
Na última, não tinha nenhum outro aluno a me olhar. A não ser minha instrutora vigiando se não estava trapaceando no exercício. Foi aí que comecei a pensar mais no momento em que vivia. Nunca fui bem decidido no que queria fazer na vida. Sempre deixei ela me guiar. Não fazia muitos planos e admiro quem se projeta com facilidade para o futuro. Esse é um ponto que ainda vou melhorar daqui para frente. São episódios incompletos sobre mim. Sabia que faria uma faculdade, só não sabia de que. Sabia que entraria em relacionamentos, só não sabia se seriam complicados ou não. Que um dia seria famoso... calma, to brincando.
Em comum a tudo isso, sempre me cobro muito em tudo que faço, cobro definições, respostas, alternativas. Me preocupo demais com os outros ao redor, muitas vezes não sei vocês que leem isso já fizeram, mas uma vez consegui passar sermão em mim mesmo... devaneio isso! E como se esperava, resolvi mudar. Simples assim. Mesmo quando sempre parecia causar uma tempestade num copo d'água para que isso acontecesse. Mudar. Decidi sair dessa, erguer a cabeça, os problemas, as dificuldades e encarar. Ninguém falou que será fácil, mas se não enfrentar ninguém o fará por mim. Sei que sou jovem e se Deus me permitir quero andar muito por essas bandas aqui da Terra.
Aliás, é nele que tenho confiado mais nesses dias. Nem em mim tive muita fé. Mas agradeço todas as noites por tudo que tenho, tudo que consegui até hoje e sei que ele tem muita coisa boa pra mim nessa vida. Já pensei mesmo em desistir de tudo, jogar tudo pro alto. Já pensei em suicídio - e nem deveria pensar nessas coisas, mas eis a questão: se retirar dessa vida resolveria realmente os meus ou seus problemas? Certamente não. Só provaria o quanto covarde seria em fugir de tudo. Fugir de todos.
Hoje eu quero mais do que isso que estou vivendo. Quero sorrir mais, sentir mais frio, mais calor. Respirar a brisa do mar, celebrar mais um pôr-dos-sol, acompanho ou não. Cantarolar aquelas músicas bregas do rádio FM, que nossas mães escutavam também, e que não saem da cabeça por mais que se queira esquecê-las. Andar descalço pela casa, tomar banho de chuva sem me preocupar em molhar as roupas. Me resguardar quando for preciso, me arriscar quando se fizer necessário, ser mais amigo, ser mais homem, ser mais molecão e não levar a vida tão a sério.
Amanhã é outro dia, e eu já fiz essa nova escolha. E você, não pensa em novas escolhas?

"Quando vem o amanhã
incerto
a certeza me faz ver o inverso
já não tenho mesmo medo de me repetir
a verdade disso tudo é o que me faz seguir
Não vou mudar em vão
Pra que mentir
Se os dias vem e vão
e não me vejo aqui
Passo a passo vou na forma
Descompasso acelerando
A noite toda 24 horas
não me fazem crer
Que a vida inteira num segundo
Na maneira que esse mundo imundo
De poeira me fez perceber
Que tudo não passou de um sonho
Todo tolo e o consolo é perceber que o amanhã existe
E que eu posso ser feliz sem me entregar."

2 comentários:

Stefani Taylor disse...

"Me preocupo demais com os outros ao redor, muitas vezes não sei vocês que leem isso já fizeram, mas uma vez consegui passar sermão em mim mesmo... devaneio isso!"
bom as outras pessoas eu não sei mas eu faço direto kkk
parabéns amigoo amoo ler o seu blog!
beeijos

ramon rangel disse...

Opah!!
Brigadão amiga por passar por aki!!
bjo aí!!!

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