10 de abr. de 2011

O Diário de Rodrigo - Capítulo VI - Recordações





Mais uma semana se passara. Mais um domingo nublado tocava a janela de meu apartamento. O silêncio era apenas perturbado quando eu abria a porta do meu cômodo e ouvia a sinfonia indesejada do ronco do Hugui invadir o corredor pequeno.
Ainda de cueca e com uma camiseta velha sai em direção à cozinha para preparar o café da manhã dos campeões. Tá, não era aquele banquete completo que nem da casa da minha mãe – inclusive se ela estivesse ciente do cardápio das minhas refeições, certamente ficaria de cabelos em pé. Resumia-se a uma vitamina de banana, leite e iogurte. Peguei todos os ingredientes para aquela incrível refeição e os coloquei na bancada próxima a mim, quando ouço um barulho suspeito. Parei de fazer tudo por um instante. Como naqueles filmes de suspense em que a gente nunca sabe o que é direito mas já está com medo do que pode acontecer depois que saciar sua curiosidade. O ruído vinha da porta da frente. Estava difícil de ouvir direito, pois o Hugui não parava seu ronco por nada, pelo contrário, só aumentava o tom da coisa. Ah, quer saber... Fui lá ver o que era. Não podia ser algo tão assustador. Ou será que podia?
Bem lentamente abri a porta – lembrando que o olho mágico estava quebrado, daí não dava pra identificar nada a não ser abrindo a porta mesmo. Definitivamente, era melhor eu ter ficado na cama e deixado aquele domingo menor, mas não. Inventei de levantar, deu nisso. Era uma moça bonita, sentada sobre sua mala roxa e de lado em direção a porta. Tinha cabelos ruivos escorridos pelos ombros, lábios rosados, sardinhas leves distribuídas pelas bochechas, pele branquinha e um perfume gostoso mas familiar. Aquele aroma eu jamais esqueceria. Era um problema perigo “Jota”. Seu nome era Júlia, minha prima de consideração que não via fazia anos. Por um segundo ouvi minha intuição dizendo: “Fecha essa porta cara! Lá vem problema pro teu lado”. Eis que ela estava certa mais uma vez. A menina se enganchou no meu pescoço, seguido de um sonoro: “Que saudade priminho! Vim pra ficar com você”.
Como eu queria que aquilo não fosse verdade. Mas era sim. Fiquei desnorteado, sem saber muito o que falar. Daí, saí disparando um monte de perguntas logo, do tipo: “O que você está fazendo na cidade? Vai ficar aqui mesmo? A tia vai bem? Você não tem juízo não menina?” E ela nem ai pro que eu dizia. Já veio adentrando o apê, Empurrando sua mala pra sala e se esparramando no sofá vermelho que tinha lá.
Ela: “ – Nossa primo, que apê legal o teu. Vim pra cidade pra estudar e tentar a vida por aqui. A mãe disse que tinha falado com você, não foi?
Eu: “ – É ela me ligou, perguntou se estava tudo bem, mas não falou que você vinha pra cá. Quer dizer, falou que você vinha pra cidade, mas não especificamente que ficaria aqui em casa.
Ela: “- Aí, poxa, desculpa. Não devia ter vindo assim, eu arranjo outro lugar pra ficar. Sem problemas.
Tive que rebater e dizer o que não esperava dizer...
Eu:” – Calma, pode ficar aqui. Sem problemas! Não vou deixar você ir pra qualquer lugar. Fazemos assim então, você fica aqui em casa mesmo, conhece a cidade, começa a ajeitar sua vida. Depois você procura um outro lugar pra ficar. Pode ser?
Ela:” – Fechado. Primo, você é ótimo! Valeu. Agora, aonde é o meu quarto?
Como assim aonde é o meu quarto? Parecia casa da Mãe Joana isso. Quer dizer do Pai João, rsr. Mas tive que engolir aquilo e apresentei a Jú ao quarto de hospedes. Era um quarto legal também. Espaçoso. Dava pra ela ficar bem lá.
Fiquei parado falando um monte de coisas sobre a casa, como funcionavam algumas coisas, dando uns toques, quando ela sem nenhuma vergonha começou a se despir. Cara, eu fiquei sem jeito e virei o rosto de lado. Ela riu, parece que fez de propósito. Sumiu com a parte de cima da roupa – uma blusa de pano vermelha com bolinhas brancas com um decote generoso que realçava o colo que o tempo se encarregava de desenvolver e na parte de baixo um jeans velho acompanhado de um sapato alto vermelho também. Ia tirando a calça quando voltei para o corredor e disse que ia pra cozinha. Falei ainda que o banheiro ficava no fim do corredor à direita caso quisesse tomar uma ducha.
Sério, tentação aquilo. Ela tinha se tornado uma moça linda, e continuava cheirosa como antigamente. E ainda preparando meu café dos campeões, me peguei lembrando quando tínhamos nossos 14 pra 15 anos. Ela foi uma das primeiras meninas que beijei. Coisa de adolescente inconsequente, sabe? Estávamos sempre juntos demais. Não pensava e nem sabia direito o que fazia ao tocar nossos lábios. Sabia que era bom, era quente e que me fazia sentir-me importante. Nossa, eu beijei alguém. Coitado, mal sabia que esse campo era tão complicado. Ficamos as escondidas com isso quase uns 2 meses. Amassos no final da rua. Mãos que corriam sem medo pelo corpo. Nada além disso. Mas na época isso era muito. Não somos parentes mesmo, de sangue. Nossos pais que na verdade eram muito amigos, daí crescemos juntos, descobrimos muitas coisas juntos, apesar de sermos menino e menina. Tinha uma consideração muito grande pelos pais da Jú, sempre foram ótimos comigo, tanto que sua mãe – a tia Márcia – dizia que me queria como genro ainda. Como eu não queria que isso acontecesse!
Foram períodos intensos de minha jovem-vida-adolescente-que-descobria-as-coisas-da- vida. Era tudo muito novo, nem sabíamos beijar direito, batíamos os dentes, uma babação tremenda, sem jeito realmente. Uma coisa feia de se ver. Fomos aprendendo, testando e sentindo como aquilo funcionava. A coisa foi ficando boa com o passar dos dias, não passávamos um dia sem se ver as escondidas. Até que um dia ela me chamou pra ir até sua casa. Dizia que seus pais tinham saído e iriam demorar. Estava tudo liberado. Confesso que meninos não pensam direito quando o assunto é “eu gosto e pronto” e mais quando têm que irrigar duas cabeças se é que me entendem. Acabei indo.
Ao chegarmos lá, entramos. Ela me puxava pela mão, me apressando pra que nenhum vizinho visse que entraríamos em casa quando não tivesse ninguém em casa. Ela fechou a porta rápido e foi logo me beijando loucamente. O clima estava esquentando. Os hormônios a flor da pele. Mas tive que pedir pra parar, estava doido pra fazer xixi. Ela falou: “Tá, mas vai logo. Não demora. To te esperando no meu quarto.”
Carambola, que garoto ia parar pra fazer xixi numa hora dessas? Só eu mesmo. Fiz o que tinha que fazer, eu voltei logo pra cena. Sussurrando, perguntava onde ela estava. Ela falava que estava no quarto e pedia pra eu ir até lá. Eu fui. Quando cheguei perto da porta, ela veio em minha direção, me puxou pra si e nos beijamos intensamente. Não bastasse isso, ela já começara a querer tirar sua blusa... Sugerindo que fossemos além de coisas que crianças bobas faziam. Falava ao meu ouvido que ela era minha e que queria ter sua primeira vez comigo. Sua mão começava a seguir até minha virilha. Nossa, deu uma pane em mim naquela hora. Tudo estava ótimo. Mas sentia que não estava pronto. Ela insistia nas investidas, a situação piorava ao passo que os segundo se passavam. Até que não deu mais pra aguentar. Segurei suas mãos e pedi pra que parássemos. Fiz ela se sentar na cama bem em frente a mim e disse que não estava pronto ainda. Não era aquele o momento pra mim. Furiosa, me questionava sem parar. Discutimos mais ainda. Ela me xingou de tudo que era nome, deixei ela falar o que queria – até hoje não falo mais alto com ninguém que já esteja gritando a não ser que valha a pena, competir pra que? Eis então que um barulho de carro se aproximava da casa. Com certeza eram os tios, os pais dela chegando não sei da onde. Sem pensar em nada do que ela falava ainda, saí rápido e segui em direção à porta dos fundos. Mal sabia eu que era por lá que eles entrariam. Instintivamente, me enfiei em baixo da mesa da cozinha e esperei os dois entrarem acompanhando seus pés passando diante de meus olhos. Na primeira oportunidade, saí de fininho.
Desde então, ela parecia sentir-se ainda mais atraída por mim, se insinuava mais quando estávamos sozinhos. E eu resistia bravamente. Se algum amigo meu soubesse dessa história me mataria. Como assim recusar a priminha? Mas não me arrependo. Até que passou um tempo, comecei a trabalhar e estudar mais, daí ela desgrudou de mim. E quem diria, hoje está aqui hospedada em minha casa. Não vai dar certo.
Já tomava minha vitamina esperta, quando vejo uma mão rápida tomando meu copo e bebendo o restante do meu invento. Era ela, só de calcinha e com um camisão azul que ainda por cima era meu, que deixei no banheiro, mas que não vesti na noite passada.
Ainda pra completar falou que aquilo era horrível e riu da minha cara. Tá ok. Até que o fomos até a varanda e quando voltamos o Hugui tinha acordado.
Apresentei os dois, e acabei sobrando na história do momento. A Jú parecia que se interessou pelo cara. Ah, nem me importei. Deixei os dois ali e fui tomar uma ducha. Cada uma que me aparece!

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