13 de dez. de 2011
O Diário de Rodrigo
Capítulo VIII - Reviravoltas - Pt01
"Terça-feira, semana que vem já é natal. Hoje fazem dois dias que larguei meu emprego. É, pela primeira vez na minha vida pedi demissão. Sério, já não estava mais satisfeito com o que fazia - trabalhava em numa agência publicitária de alto rendimento aqui na cidade... acho que nem citei esse emprego aqui, mas eu o tive. Tive. Há 2 semana atrás escrevi de próprio punho a carta demissional e entrei em contagem regressiva para ir embora e não mais voltar para aquela velha rotina.
Nessa última sexta, foi meu último dia lá. Depois das 18:00 horas eu faria parte de mais uma estatística do Brasil. A dos desempregados. O pior disso tudo - tirando que no fim do mês não tem salário - é que não me sentia culpado por nada do que fiz. Pelo contrário, estava com o coração e a consciência tranquila.
As 18:01hs da noite, estava eu a caminho de casa. Camisa de botão branca com as mangas arregaçadas até os cotovelos, gravata frouxa, barra da calça dobrada e sapatos nas mãos. O sol ainda estava lá, meu único companheiro naquele momento. Andando pela orla, vi crianças com seus pais. Jovens dando uma volta de bicicleta e patins.
Já perto de casa, meu celular toca. Pelo número, era o Hugui. Não quis atender o telefone. Deixei tocar abafando seu som contra a coxa e assim que silenciou tratei de desligá-lo. Queria ficar sozinho ao menos alguns minutos. Desci até uma castanheira da praia e me sentei ao seu lado, assim como fazia quando era guri. Uma mistura de medo e nostalgia tocava minha alma, era estranho demais pra mim sentir isso novamente. Pensei que nunca mais sentiria essas coisas. Que pelo fato de ter (alguns) amigos, trabalho, dinheiro (na medida pra sobreviver e estudar) nada de diferente poderia me atingir. Putz, nada a ver.
Muitas dúvidas também me assustavam um pouco. O que faria agora? Será que arranjaria emprego novamente? E as contas pra pagar? Humpf... - Calma! - falei pra mim mesmo. Não seria a essa a melhor hora pra entrar em desespero. Ainda não. Encostei a cabeça na castanheira e ali permaneci vendo o sol dar adeus ao dia e boas vindas para mais uma lua que já estaria por vir. Até que um homem do nada chega perto de mim e pede licença. Putz, não entendi nada. Olhei o figura e só concordei. E assim que dei esse aval, ele se sentou ao meu lado. Incrivelmente, parecia estar me vendo naquele homem. Ele era mais velho do que eu, fato. Mas nem tanto mais velho. Também vestia roupa social, que a estas alturas também estava toda amassada, gravata frouxa assim como a minha, calças com as barras dobradas e sapatos na areia. Só faltava esse amigo de paisagem também ter largado o emprego... O que não aconteceu.
Começamos a conversar, e tal constatação pude obter perguntando a ele mesmo. Por um acaso, ele era o mesmo moço que me ajudara a me levantar quando caí perto da academia há algumas semanas atrás. Doido isso. E pelo visto não foi só eu que lembrei de alguém.
"-Eaí, o joelho está melhor?" E foi com essa interrogativa que começamos um papo de fato. Seu nome era Maurício. Sorri meio sem graça, me desculpei por não ter lembrado dele. Ele por sua vez contou que também malha na mesma academia que eu, e volta e meia me via lá. Contou ainda que sempre que pode também passa pela praia pra ver o restinho de sol que ainda brilha no final da tarde.
Já estava tarde. O tempo passou rapidinho. A conversa também foi boa. Me despedindo já a caminho de casa - que era ali perto por sinal - Maurício me falou que também morava por aquelas bandas. Acabou por me acompanhar até a porta do meu prédio. Com um aperto de mão cada um seguiu seu caminho.
A asa estava vazia. A Júlia devia ter ido estudar e o Hugui estaria no trabalho.Tratei logo de tomar uma ducha pra espantar as más energias. Coloquei uns pães de queijo pra assar e fui pra varanda. Olhando para a rua e para os prédios a frente, tentava reconstruir minha paz. Estava difícil, mas tinha que tentar. Do nada ouço um assovio insistente. Procuro seguir o som e descubro que meu vizinho da frente é o Maurício. Putz,que mundo pequeno. Com uma cerveja em uma mão, e a outra acenando. Simplesmente sorri, acenei de volta... acho que fiz um novo amigo.
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