1 de jul. de 2011

Uma manhã com você



"Hoje pulei cedo da cama, devagarzinho. Sem fazer barulho, meus pés tocaram o chão frio do apartamento visando espiar mais uma manhã de domingo pela janela. Era inverno. O céu cinzento parecia não querer despertar assim como eu.
Vesti um roupão felpudo e quente, que sempre fica ao lado da cama, e segui em direção à cozinha. Coloquei água, pó de café e açúcar na cafeteira. Enquanto esperava o líquido negro e forte ficar pronto pra começar bem mais um dia comum, tratava de esquentar 4 fatias de pão de forma amanteigadas na torradeira velha de guerra. Um aroma delicioso tomava conta do recinto, fazendo-me lembrar dos meus tempos de moleque nos quais sempre pulava da cama cedinho nas manhãs de domingo para tomar café com toda a família à mesa. Vivia puxando a barra da saia da mãe para saber como ela fazia tudo aquilo logo ao iniciar o dia.
O tempo passou depressa. O moleque agora só existia no coração e na alma. Atualmente os cabelos começavam a faltar na cabeça, os que ainda remanesciam queriam começar a tornar-se brancos, a feição ficou mais carregada, fruto das preocupações, responsabilidades e dos prazeres da vida adulta. Mesmo assim continuava estabanado como sempre e comprovando isso...
Os minutos também passaram sem se sentir. A cafeteira silenciara dividindo igualmente o café fresco em 2 canecas brancas de porcelana francesa que se encontravam abaixo dela. O cheirinho bom de antes agora dava lugar a outro, o de alguma coisa querendo queimar. Eram as torradas que quase perdi esquecendo-as na torradeira, mesmo velhinha ainda dava pro gasto. Consegui salvá-las.
Tratei logo de acomodar aquela singela refeição para dois numa bandeja de madeira, ajeitando ainda uma rosa vermelha dentro de um vasinho transparente no centro da tábua dando um toque especial a tudo aquilo.
Andando lentamente nas pontas dos dedos, como um verdadeiro equilibrista na corda bamba, seguia em direção ao quarto. Mais precisamente em direção a cama. Sentei-me em sua borda acomodando meu corpo. A bandeja ainda em punhos prontas para suavemente tocar o colchão. Com os braços agora livres tratei logo de abraçar bem devagar o edredom espesso e cor de creme. Entre ele encontrei alguma coisa... era grande, cheirosa e tinha cabelos castanhos sedosos e longos dos quais jamais esqueceria. Era você meu amor.
Tudo bem, estava com uma carinha amassada de quem acabara de acordar, mas que por sua vez já possuia um charme especial. Alguém normal, alguém que não acorda toda maquiada, com sílios postiços e toda arrumadinha parecendo aqueles comercias de tv.
Com carinho, me beijara a testa quando me aproximei mais mesmo sem escovar os dentes. Contemplando-me com um bom dia quase mudo. Sentou-se. Experimentou o café levando até seus lábios com a mão esquerda a caneca através de sua alça. Mordiscou a torrada e enquanto isso, eu observava tudo aquilo como um expectador ávido e silencioso. Encantado.
De boca cheia, ouvi um tímido "ta bom isso" e outro, entre as bochechas barulhentas "te amo, sabia?"
Então,meus olhos se fixaram brilhantes em sua direção. Sorri um sorriso bom, de alguém que por algum motivo sabia que era amado de uma forma especial. Não dizem que depois do café é que sabemos se uma noite realmente deu certo? Desprezamos a bandeja ao lado do pé da cama. Acomodei-a entre meus braços, sua face sob meu peitoral e assim ficamos... nos amando em silêncio, como corpos quentes que conversavam entre si. Até que alguma coisa ou alguém perturbasse aquela cena de mais um domingo de inverno cinzento ao teu lado. Será que tranquei a porta?!?"

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